As manifestações de junho não derrubaram apenas a
popularidade da presidente Dilma Rousseff. Elas também ajudaram a desgastar sua
relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Petistas dizem que "criador" e
"criatura" estão muito longe de um rompimento, e que errará quem
apostar nesse desfecho, mas concordam no diagnóstico: a ligação dos dois chegou
ao ponto mais difícil desde que Dilma assumiu o cargo, há dois anos e meio.
Nos bastidores do governo e no próprio PT, a distância foi
percebida e virou alvo de comentários. Interlocutores de Dilma atribuem a
aliados de Lula o vazamento de críticas à atuação do Executivo durante a onda
de protestos que sacudiu o país em junho.
Interlocutores de Lula dizem que ele considerou uma
"barbeiragem" a decisão do Planalto de propor uma constituinte para a
reforma política sem ouvir o vice-presidente Michel Temer (PMDB), mas
consultando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), adversário do PT.
Também há queixas partindo do governo. Uma delas: Lula chegou
a sugerir a redução do número de ministérios, embora tenha promovido o aumento
do número de pastas quando era presidente. Pessoas que falaram com o ex-presidente nas últimas semanas
o descrevem como "preocupado" e dizem que volta e meia ele expressa incômodo
com a "teimosia" e a centralização da sucessora. Desde dezembro, ele tem sido assediado por empresários,
banqueiros, sindicalistas e políticos, que em geral reclamam do estilo de
Dilma.
CAMPOS
Auxiliares de Lula notaram que o ex-presidente buscou nas
últimas semanas uma reaproximação com o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos (PSB), que desde o início do ano ameaça romper com o governo para se
candidatar à Presidência em 2014.
Os dois se encontraram pela primeira vez após meses de
afastamento e falaram por telefone. Numa dessas conversas, em 18 de junho, Lula
disse a Campos que descarta a possibilidade de concorrer a presidente no ano
que vem.
A reunião ocorreu horas depois de Lula ter tido um encontro
com Dilma que foi descrito por petistas como o mais tenso até então. Alguns
falaram em "briga" e "discussão acalorada", alimentando
rumores depois negados de forma enfática pelos dois lados.
Nos dias seguintes, as queixas se multiplicaram, e
manifestações a favor de uma nova candidatura de Lula voltaram a ser feitas em
público.
No entorno de Dilma, há quem acuse o ex-presidente de ficar
longe da crise para preservar sua imagem. No círculo de Lula, a acusação é
considerada absurda e diz-se que ele procura evitar ofuscar a sucessora ou
passar a impressão de que tenta interferir em sua administração.
Segundo auxiliares de Lula, ele indicou recentemente que só
irá de novo ao encontro de Dilma se for chamado, o que foi interpretado como
sinal de frustração diante da falta de acolhimento para sugestões feitas à
presidente. Lula sugeriu mudanças na área econômica do governo, para
resgatar a credibilidade da política fiscal, e na articulação com o Congresso,
para pacificar a relação do governo Dilma com seus aliados.
Petistas ligados a Lula defendem que a presidente troque
pelo menos o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, apontado como
responsável pelas manobras contábeis que fizeram o governo perder credibilidade
na condução da política fiscal. Mas Dilma resiste a substituí-lo. Ela também resiste a
promover mudanças na comunicação institucional do governo, outro alvo de
críticas de auxiliares de Lula.
Fonte: Folha de São Paulo
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